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(7/8) MUDAR EM PEQUENOS PASSOS OU DAR O GRANDE SALTO?

  • psiantoniovieira
  • 9 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 10 de abr.



(7/8) Porque é que o nosso eu se recusa a questionar-se a si mesmo?
(7/8) Porque é que o nosso eu se recusa a questionar-se a si mesmo?

Mudamos, mas será que estamos realmente a transformar-nos?


Será que estamos apenas a ajustar o comportamento ou a aceder a novos níveis de consciência?


Denis Marquet, filósofo e fundador de uma das primeiras consultorias filosóficas em Paris, refletiu sobre essa diferença essencial. Segundo ele, as mudanças comportamentais estão no campo da psicoterapia; já as mudanças profundas pertencem à espiritualidade. Ambas lidam com a personalidade — considerada uma estrutura de defesa que criámos para não enfrentarmos a nossa dor mais profunda, aquilo que ele chama de "sombra".


É por isso que, muitas vezes, mudar torna-se difícil ou mesmo ilusório: o ego quer proteger-se e evita o confronto com esse sofrimento original. As mudanças radicais podem até colocar-nos em contacto direto com conteúdos inconscientes dolorosos, o que tende a reforçar as defesas ou causar descompensações. Já os pequenos passos, por serem menos ameaçadores, podem abrir caminho para alguma transformação — mas sem tocar no essencial, permanecem de algum modo à superfície.


No entanto, uma verdadeira mudança espiritual exige mais: não se trata de melhorar o ego, mas de permitir que se dissolva. E isso não é fácil — há medo, resistência e um profundo apego às defesas. Marquet defende que o primeiro passo para a mudança real é aceitar-se como se é, o que pode parecer paradoxal, mas é libertador. Muitas vezes, as grandes viragens na vida surgem após crises inesperadas — uma perda, uma doença, um colapso. Elas forçam-nos a olhar para o que sempre evitámos, desarmando o sistema de defesa, podendo permitir o início de uma transformação verdadeira.


O trabalho do terapeuta, segundo Marquet, consiste precisamente em facilitar esse encontro com a dor de forma segura, ao simular o que uma crise real provocaria. Só assim os pequenos passos se podem tornar verdadeiramente eficazes. É também por isso que algumas abordagens rápidas, como certas terapias breves ou hipnose, só funcionam se não tocarem em estruturas profundas do ego. Caso contrário, apenas camuflam o sintoma.


A personalidade, como máscara que nos ajudou a sobreviver até agora, contém pistas sobre o nosso ser mais profundo. Ao atravessarmos momentos difíceis com apoio e ferramentas certas, podemos transformar essa dor num espaço fértil de abertura, desejo e criatividade e esse caminho leva-nos, muitas vezes, de volta às nossas paixões — mas agora não como forma de compensar algumas carências ou falhas, mas como expressão do nosso verdadeiro propósito e significado.


No fundo, a experiência de despertar, o salto de consciência, é único e impossível de ser descrito por fórmulas. Só podemos nomear os obstáculos e preparar o terreno. O resto, é uma experiência íntima, profunda e irrepetível.


Referências:

  • Marquet, D. (Entrevista). Revista Nouvelles Clés, nº 64, Hiver 2009/2010.

  • Comentários recolhidos por Bobby Larwenstein.

 
 
 

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